Será que já podemos considerar ''Jagaaaaaan'' o melhor mangá de 2017?

Um cruel herói com uma coceira no dedo do gatilho aparece em cena!

Uma junção de Kiseijuu com Homunculus + uma grande pitada de imprevisibilidade. Jagaaaaan é aquele mangá que vai além do grotesco e horror chocante, ele mantém o tempo todo uma afronta ao leitor, com questionamentos sociais, num tom bastante pessimista. À cada página, uma nova descoberta. Uma nova surpresa. Apesar de ter um clima bastante pesado, é uma leitura leve, com diálogos claros e precisos. O mistério fica por conta daquele universo maluco que possibilita coisas estranhas, sem maiores explicações. No entanto, o mais brilhante, é a nuvem escura que paira em cada personagem. Cada um instiga ao pensamento crítico e duvidoso. Afinal, quem são eles de verdade? Essa pergunta é um labirinto de possibilidades. 

Na história temos o jovem Shintarou Jagasaki, um cara aparentemente comum, num trabalho comum, vivendo com sua namorada comum. Trabalha como policial de um bairro, e faz planos para casar com sua amada no futuro. Exemplo de cidadão, correto? Errado! Shintarou esconde um desejo horrível dentro de sua cabeça, e sempre imagina, atirando nas pessoas que ele considera irritantes – o que depois fica claro, que é praticamente todo mundo. Shintarou tem imaginação de assassíno, e o mangá faz uma brincadeira muito legal, de confundir o que é real com o que não é. Depois, a obra trata de fazer a imaginação para realidade, e como se acostumamos com a brincadeira inicial, vem a dúvida, isso está realmente acontecendo ou é a imaginação dele de novo? Isso traz um peso gigantesco de significado, porque o mangá aponta um monstro no leitor, que quando descobre que é imaginação, não sente tanto o impacto das mortes trágicas. Quando ele revela que aquilo de fato estava acontecendo, é como se o autor estivesse dizendo, ''então, está tudo bem em imaginar pessoas mortas?''. O paralelo que ele levanta de ficção e realidade na história, é sensacional. Posteriormente, há ainda mais coisas para se discutir aí. 

A vida de Shintarou Jagasaki muda quando ele se vê numa situação de merda. Uma criatura grotesca aparece, e ele se vê obrigado a finalmente usar seu revolver. Mas para sua surpresa, o monstro é mais rápido que ele e Shintarou acaba que usando somente todo seu desejo de atirar nele, e funciona. No meio disso, aparece uma coruja, que futuramente será seu cúmplice e aliado nos confrontos com essas criaturas bizarras. Ah, depois tem uma chuva de sapos. Eles são os responsáveis por tornar pessoas comuns em monstros. No entanto, não estamos falando de qualquer monstrinho aleatório, cada transformação tem haver com a personalidade de cada um. Se o cara é um homem de negócios, mandão, que está se achando a ''última coca-cola do deserto'', e o sapo de alguma forma entra nele, esse orgulho enraizado no cara o transformará numa fiel retratação desse sentimento, numa criatura assustadora. 

Jagaaaaaan é um seinen sobrenatural que mistura horror e ação, escrito pelo Keneshiro Muneyuki (Billion Dogs, Invisible Joe, entre outros) e desenhado pelo Nishida Kensuke (I am a hero in Nagasaki). Atualmente conta com apenas 3 volumes, serializados na revista Big Comics Spirits, e publicados na Shogakukan neste ano de 2017. Por enquanto só tem 23 capítulos traduzidos, por isso não tem como comentar as coisas de maneira aprofundada, até porque o mangá está em publicação. No entanto, eu espero que esse texto instigue você à ler e tirar suas próprias conclusões. 


Como eu estava dizendo no início, esse mangá tem um pouco de Homunculus e Kiseijuu. O protagonista aqui de nossa história, enxerga coisas loucas, que ao passar do tempo as outras pessoas também o verão. Os monstros não são parecidos, mas remetem aos de Jagaaaaaan, por se manisfestar nas pessoas e tal. Kiseijuu, por o poder do nosso herói, se concretizar na mão - alias, no próprio mangá, há uma referencia clara à Kiseijuu. Achei muito legal isso, pois humaniza mais a história, quando ela diz exatamente o que a gente está pensando, ou poderia pensar com o tempo. Um dos pontos mais fortes da obra, é ser sempre honesta com que quer passar. Os personagens são muitos sinceros - bom, pelo menos aparentemente no atual momento. 

Jagaaaaaan não é um mangá fácil, principalmente para quem é sensível. A obra tem uma narrativa bastante pessimista sobre tudo, e mesmo que ela tente te enganar que vai acontecer uma coisa boa, esqueça; o destino deles sempre será o mais dramático e difícil possível. Não há tempo para luz e sombra fresca. O mangá é bastante frenético nos desastre que quer compor, as cenas de ação, com bizarrices, cabeças cortadas, corpos estraçalhados, e até estupro, são bem comuns e rotineiras. Mesmo que a pessoa esteja acostumada em ler seinen, dramas, poderá ficar totalmente desconfortável com o rumo que a história segue. Que inclusive, parece que fica ''pior'' à cada capítulo. Eu gosto do horror trabalhado aqui, realmente, parece um roteiro retirado do pesadelo de alguém. Existem certos resquícios de significados, mas ele ainda tem um pé no sobrenatural. É uma mistura bem louca, não inovadora, mas muito, muito curiosa. À cada página, um novo esboçar de surpresa. Cada ato leva à uma consequência inimaginável - exceto em algumas partes que ele é dramático demais.  Tirando isso, a obra é sem dúvida, bastante imprevisível. 


Há um tom bastante aventureiro no entanto, em Jagaaaaaan. O personagem principal, que aparentemente, poderia ser um vilão em potencial no início com aqueles pensamentos macabros de assassinatos, meio que se torna um herói aos poucos. Ele acaba querendo salvar pessoas inocentes, e têm intenções boas no fundo. Gosto dessa troca de perspectiva, apesar que não tira o fato que ele seja lá no fundo um cara imperfeito. O grande ponto desse mangá é justamente esse: dialogar com o oculto das pessoas. Afinal, não existem pessoas 100% boazinhas o tempo inteiro. Em algum momento o ego dela vai inflar, algum pensamento de superioridade virá à tona, e etc. Somos humanos. Estamos sujeitos à errar o tempo todo. Mesmo que o mangá tenha uma visão bastante degradante da humanidade em geral, eu gosto como ela desenrola a ideia no decorrer da trama de redenção. O personagem principal vai tendo a consciência de sua mediocridade, mesmo assim ele tenta ser uma pessoa melhor. Mesmo que ele faça as piores cagadas, seja direta ou indiretamente, ele tentará ao máximo consertar. E isso o destaca como um personagem verossímil. A máscara de vilão vai caindo, e você torce por ele apesar dos pesares. Porque de certa forma, o entende.


Este mangá pode ser considerado como metafórico. Há brechas para algumas interpretações paralelas, e isso é um dos grandes atrativos da obra. Não vou me estender mais do que o necessário porque acho que a graça está em você mesmo ter sua interpretação. Entretanto, não nego que a minha visão da série é a mais realista possível. Não me apeguei tanto às possíveis teorias, mas admito que se parar pra pensar dá pra ''viajar'' legal na história.

Também aproveito para dizer que não vou afirmar que é o melhor mangá de 2017. Até porque eu não li todos os que saíram. Mas de uma coisa eu posso afirmar: é uma das grandes surpresas do ano -pelo menos pra mim. À cada capítulo nasce outro ''WTF'' na cabeça. A trama tem se mostrado com muito potencial: não são só reviravoltas, são também questionamentos sobre o lado oculto das pessoas. É uma obra pra se pensar, mas também para curtir - na medida do possível. A arte não é nada muito diferente do que já estamos habituados, mas as expressões dos personagens são o brilho visual que dão o significado que cada cena pede. É muito realista o sentimento que está sendo mostrado no rosto de cada um. Só por isso, a obra já merecia ganhar algum prêmio.  

Estou empolgada para descobrir aonde isso vai dar. 
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