Os 50 anos de Waki Yamato como mangaká (ou como obras históricas podem se tornar atemporais)


Neste post, você jovem otaku poderá saber quem é Waki Yamato, e o que sua vasta experiência dentro do ramo, tem a dizer sobre a profissão.

Neste ano, Waki Yamato completa 50 anos de carreira. E eu, como ''pseuda-jornaleca-otaka'' pretendo sempre que der, apresentar um pouco mais a vida e obra desses artistas que merecem total reconhecimento pelos seus trabalhos. Espero que gostem!

Waki Yamato é conhecida por seus mangás para meninas com o tema histórico. Aos 68 anos, Yamato agora se sente bastante orgulhosa pelo seu trabalho árduo. Uma de suas obras mais populares é ''Haikara-san ga Toru'' (Aí vem uma garota moderna) publicada em 1975 a 1977. Com isso, podemos dizer que o título desta obra, resume toda a carreira de Yamato, pois as suas heroínas sempre estiveram à frente de seu tempo. Personagens que jamais deixaram de ser atuais, mesmo com o passar dos anos. Desta forma, a mangaká estabelece uma relevância atemporal dentro dos romances. Por mais que a temática faça parte do passado - como a era Taisho (1912-1926) que é marcada pelos primórdios da democracia na sociedade japonesa - ainda sim, personagens como a Benio representa uma linguagem universal e transcendental, já que a busca pelo seu espaço dentro do mundo continua sendo uma tarefa muitas vezes delicada, como as mulheres que vivenciam diariamente com a indiferença na sociedade.

Hoje, os tempos são outros. Muita coisa obviamente, mudou de lá pra cá, e continuará mudando constantemente, seja no Japão, seja no Brasil, ou em qualquer outro parte do mundo. Porém, tem alguns valores ultrapassados que ainda permanecem no meio da modernidade que vivemos hoje. E é aí que entra Waki Yamato nessa história, para dar voz, forma, beleza, e encanto para essas personagens que refletem essa questão igualitária.

Haikara-san ga Tooru
A personagem Benio do ''Haikara-san ga Tooru'', é apenas um dos maiores exemplos, porém, em 50 anos de carreira, Yamato construiu muitas outras em contextos divergentes que também reforçam a força da mulher em meio à períodos conturbados. Seu último trabalho ''Ishutaru no Musume: Ono Otsu Den'' (A Filha de Ishtar) que inclusive está atualmente sendo publicado no Japão, acompanha a vida de uma mulher que vive sozinha nos anos de guerra do período Sengoku (1493-1573). 

É interessante notar que não é necessário viver dentro de tal época para criar verossimilhança na trama, Waki Yamato é uma grande prova disso. A autora não precisou estar em tais momentos históricos como a guerra Sengoku para saber como as coisas eram. Sua fonte de inspiração  em suas personagens sempre foram as mulheres que estiveram em sua volta desde a infância, e a sua vontade de despejar sobre o papel a independência conquistada por elas - o que não descarta também uma vasta pesquisa sobre. Note que a mangaká traz um pouco de si nas suas histórias, e também um pouco de verdade dessas épocas, o que torna tudo muito único e inigualável.

Por outro lado, é válido frisar que apesar de Waki  Yamato ser uma ótima mangaká, ela não é considerada uma das revolucionarias do segmento shoujo. Ela aparece incluída em outro conjunto, o grupo de Yokohama, ao lado de Suzue Miuchi e Yumiko Igarashi.

Mas engana-se quem pensa que Waki Yamato só viveu de shoujo. Muito pelo contrário, Yamato já fez de tudo, inclusive mangá policial. Isso mesmo, você não leu errado. Yamato é uma artista completa.

Eu acho lindo essa capa de Genji Monogatari *--* pena que só 2 dos 11 volumes estão traduzidos do inglês (que eu achei) 

É importante dizer também que Waki Yamato desde muito nova teve contato com esse mundo dos mangás. À começar pelo seu irmão, que era apaixonado pelas Astro Boy e Gigantor, e consequentemente, ela também mais tarde. Uma curiosidade interessante é que Yamato é amiga de infância de Ryoko Yamagashi, outra mangaká de renome do Japão, e já foram juntas num famoso festival da cidade em seus tempos de escola para ver o Deus dos mangás, Osamu Tezuka.

Apesar de Yamato e Yamagashi iniciarem suas carreiras na década de 60, quem revolucionou os mangás para meninas de sua geração foi a Moto Hagio e Keiko Takemiya no inicio de 1970. Não nasceu daí uma rivalidade, mas sim, uma grande admiração pelo sucesso e reconhecimento delas. Esse momento foi crucial para que Yamato descobrisse seu estilo, e qual era a sua identidade nos mangás. Foram 8 anos de reflexão e questionamento acerca de suas habilidades e do que ela realmente gostaria de fazer em seu trabalho de relevante.

Por fim, Yamato fez mangás de vários gêneros, no entanto, sempre com a resposta para suas indagações artísticas na ponta da língua ''fazer algo que eu mesma gostaria de ler''. O que a levou então, a criar obras com temas históricos, sempre com finais felizes. Nesse entretenimento mais leve, Yamato encontrou seu espaço dentro dos mangás, seja de notoriedade do publico como de qualidade na trama. Dito isso, é certo afirmar que o segredo para o sucesso foi fazer o que gosta, de maneira que as pessoas percebessem imediatamente, de quem se tratava. Ou seja, algo com sua marca. Do seu jeito. E ela conseguiu.
Asaki Yumemishi, sua obra mais consagrada
Nota de rodapé
Recentemente, Waki Yamato ganhou uma exposição no Japão com seus trabalhos, no Tokyo Todu Ikeburo para celebrar a sua obra. Afinal não é pra menos. Não é fácil passear por tantos gêneros e ainda se consolidar dentro do shoujo com adaptações de clássicos da literatura por exemplo. Para nós, que estamos aqui no Brasil e não podemos ir até lá para conhecer ainda mais sobre a artista, fica aqui a admiração e o respeito pela devoção e esforço à essa profissão tão desafiadora.


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