Animes e Mangás: Como tudo começou? #02


























A segunda parte da nossa aulinha.


Mês passado dei inicio à uma série de posts sobre a cultura pop Japonesa, e cá estou eu cumprindo minha promessa de continuar com a parte dois, espero que gostem. Se você não viu a Parte 01, clica aqui. Bem, é isso, vamos seguir estrada!

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Anteriormente falei sobre como o Japão foi respeitado como sociedade organizada, pacifista e progressista. Agora, vamos saber quando ocorreu o baque na locomotiva. Tudo aconteceu nos anos 70. O Choque Nixon, a crise do Petróleo e os movimentos estudantis estremeceram o chão do povo e da economia japonesa. Com a indústria totalmente refém do combustível fóssil, o país chegou a ficar na escuridão e colocou em alerta as suas atividades essenciais. Houve racionamento até de papel higiênico. Essa instabilidade momentânea gerou dois extremos artísticos. A conservadora, que buscava reafirmar a estabilidade - popularização dos musicais românticos e auge da música enka - e a que visava balançar ainda mais os alicerces desse gigantes com os pés de barro que estava se formando.

Com o susto passado, o país passou a abrir os olhos para os modelos de gestão empresariais que, preadoras, começou a sustentar esse crescimento vertiginoso através da degradação ambiental e dependência energética. Essa eficiência industrial virou questão crucial, para os novos modelos, que foram sendo desenvolvidos visando a economia de recursos, eliminando assim desperdícios e desenvolvendo de novas fontes energéticas. Os japoneses ensinaram ao resto do mundo como administrar, e assim, modelos que são consagrados até hoje, como o Just-in-Time da Toyota passaram a existir. 

Já a economia entrou nos eixos como nunca, graças a geração “bolha econômica” dos anos 80 que estava sendo traçada. Essa geração, que nunca sofreu privações, tinha acesso a tudo o que o dinheiro podia comprar e acreditava que tal ambiente próspero se manteria para sempre, tornou-se altamente consumista e hedonista. A era dos modismos e da infantilização. Nos anos 80, ser Kawaii era o que importava. Nascem então, o período de tribos urbanas. No pop por exemplo, nada mais previsível. O lixo quase que vira regrainúmeras , é a era de ouro do Star System japonês com suas idols fabricadas para agradar o público adolescente embriagado e alienado.

Sobre a história japonesa eu paro por aqui, pois o estouro da bolha deu início nos anos 90 e o assunto à seguir será sobre a geração otaku.


Graças a essa legião de anônimos, hoje a internet possui um ponto de subversão e contestação de download de animes e mangás traduzidos. O pop japonês foi desenvolvido o bastante para servir como alternativa, o que acabou tendo uma aparência menos imposta que a altamente esquematizada cultura pop americana.

A situação de hoje beira ao inacreditável, já que milhões de jovens urbanos em países completamente diferentes, como Brasil, França, Indonésia e Rússia se denominam otaku e incorporam abertamente a estética nipônica em seu dia a dia. Como um adolescente espanhol consegue se sensibilizar com ficções japonesas que dizem respeito a costumes e comportamentos típicos daquele país exótico? Há algo de universal no pop japonês, que abrange todo e qualquer tipo de cultura. É algo que não foi imposto, vomitado, martelado na base do poder econômico, mas sim, procurado voluntariamente por pessoas comuns em todos os continentes. Me referindo claro, à situação internacional.  Internamente o pop japonês também está tão onipresente que o mal-estar já se reflete em movimentos artísticos como o Superflat, que nada mais é que, um movimento artístico pós-modernista, fundado pelo artista Takashi Murakami, influenciado pelos estilos mangá e anime.



No Japão, a cultura otaku foi e é; alternativa do resto do mundo, que domina as artes, a publicidade e todos os campos visuais, e provoca reações devido a saturação.

A crise asiática de 97 obrigou o Japão a mudar sua postura em relação à exportação de sua subcultura. Com a economia estagnada, e sem esperanças de crescimento do mercado interno, eles voltaram-se, finalmente, ao exterior. Vídeo-game, animes e mangás são o carros-chefe do esforço recente de exportação cultural, que apesar de ser calculado em alguns bilhões de dólares, ainda é algo inexpressivo se comparado ao PIB de alguns trilhões. Entretanto, é um dos poucos setores economicamente saudáveis na estagnada economia japonesa.

E é aí que surge os otakus. Segundo o dicionário, significa um fracasso completo. Isso se apenas nos limitarmos a entender seu sentido no seu território de origem. A questão se torna mais confusa quando o termo é abraçado de modo distorcido mundo afora.

Já no Brasil, Otaku é um termo adotado pelos fãs da cultura pop japonesa do pós-guerra, quase sempre de modo restrito aos fãs de animes, mangás e/ou tokusatsus. Por extensão, a maioria deles acaba se interessando pela cultura japonesa geral, mas não é comum o aprofundamento, isto é, eles até sabem o que é um ikebana, comer com hashi ou que se retira os sapatos antes de entrar numa residência japonesa; mas não fazem ideia de quem seja Hideki Tojo, Bashõ ou mesmo Yasujiro Ozu. Dominam, no entanto, sua paixão específica. Assistiram incontáveis animes de todos os gêneros existentes, sendo capazes de decorar uma lista telefônica de nomes asiáticos.

O termo não costuma gerar vergonha em seus adeptos, ao contrário, se gera alguma emoção em alguns é orgulho. Até porque o termo é desconhecido das pessoas menos antenadas e dos adultos como um todo, e, mesmo quando conhecido, não gera estigmas sociais significativas. Se carrega algum pesar, o rótulo compensa quando é usado para gerar pertencimento no grupo social. Existem eventos de cultura pop japonesa, todos sob a estrela do Anime Friends em São Paulo, que ano a ano parece se converter em uma convenção otaku. Um lugar para o otaku encontrar gente como ele, que compartilham gostos e percepções, usam bandanas do Naruto ou plaquinhas com avisos patéticos sem sofrerem humilhações públicas, partilham o prazer de usar ou apreciar Cosplays e sorver litros de Mupy, a bebida oficial do otaku brasileiro. 


Agora ... ser um Otaku no Japão é completamente diferente. Otaku é uma palavra que gera controvérsias, até mesmo no Japão. Fato que ele foi cunhado em 1983 pelo ensaísta Nakamori Akio. É intraduzível, mas a beleza do idioma japonês permite que compreendamos as ideias embutidas. Remete tanto ao termo habitação (isolamento) quanto a um tratamento impessoal de distanciamento dos japoneses (falta de conectividade social). O termo ficou jogado para escanteio até 1989, quando o psicopata, pedófilo e necrófilo Tsutomu Miyazaki (o Drácula, o Assassino de ninfetas etc, executado recentemente pela Polícia japonesa) cometeu barbaridades contra quatro pequenas meninas. Em seu quarto, foram encontrados quase seis mil fitas VHS com animes, mangás e artigos colecionáveis do gênero. Apesar das denúncias que provas foram plantadas pela polícia para justificar o caso, ou por um fotógrafo, o caso serviu para a completa crucificação de quem tivesse o mesmo hábito que Miyazaki e vivia em seu canto sem fazer mal algum. Todo otaku passou a ser um serial killer em potencial.

Hoje o termo é aceito publicamente no Japão para definir qualquer pessoa que tenha uma mania qualquer, usualmente associado com coleções. Alguém que colecione selos compulsivamente é um otaku. Mas geralmente quem faz isso são aqueles que conhecemos como otaku. Colecionam milhares de mangás, animes gravados em formatos de mídia diversos, artigos colecionáveis dos seus personagens favoritos, jogos etc. Mais que isso, colecionam compulsivamente dados inúteis sobre seus objetos de adoração. Contam quantas vezes a “talento sem talento X” piscou com o olho esquerdo ou quantos episódios tem determinado anime Y.

Diferente do otaku brasileiro, não conseguem se relacionar com aqueles que não partilham do mesmo hábito e gostos. Sim, eles dominam excessivamente um assunto e ignoram todos os demais (aqui vejo LEVE sinergia com alguns otaku brasileiros). Se isolam ao mesmo tempo em que são isolados pelos demais, que vêem nos otaku um bando de gente perdida, uma vergonha nacional. Não costumam trabalhar, vivem de bicos, seu relacionamentos amorosos são com acompanhantes virtuais ou com 30cm de resina (uma boneca!). Deixaram de tentar ser atraentes há muito tempo, não gastam em roupas como os demais, toda a verba é canalizada para seu único hobby: entendem agora porque a indústria, presa na crise financeira, faz essas porcarias de animes focados nos otaku? Garantia de retorno financeiro. Além de só gastarem dinheiro com isso, é a única coisa que lhes faz sonhar, pois não há concorrência! $$


Continua na Parte #03 ...
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