Paprika (2006) - O melhor filme surrealista da galáxia!


 Os sonhos não tem fronteiras,o espírito fica livre das limitações do corpo e ganha uma liberdade infinita.




 Dizer que, o diretor Satoshi Kon é o mestre da animação surreal, talvez não seja mais surpresa para você. O que talvez você não saiba, é que ele é um cinéfilo de carteirinha, onde usou e abusou de ilimitadas referencias. Mais são referencias muito bem encaixadas, que circulam no seu roteiro discretamente, mais elas estão ali, nos pequenos detalhes. Fora a questão de lidar com roteiro, Satoshi ainda precisa usar de todas as artimanhas possíveis para cativar o público pela animação. Sabe-se que não é uma tarefa nada fácil, desenvolver personagens que possam demonstrar suas emoções da forma mais sincera possível, é quase uma missão impossível. As técnicas cinematográficas precisam estar de uma forma convincente ao desenho, a textura tem que estar em comunhão com a proposta da história. É um conjunto de idéias misturas com a arte. Não é fácil, é uma trabalho dobrado. Exige mais. Entretanto, Satoshi Kon passa por cima de todas essas dificultosas etapas com êxito. É o que vemos em Paprika, o melhor filme surrealista da galáxia (ou um dos melhores).


 A metalinguagem e os flertes com a insanidade, são o grande ponto forte de Satoshi Kon sem dúvida. Seus trabalhos como Perfect BlueMillennium Actress e Paprika são como o seu porto seguro, o seu estilo. Isso só aumenta o meu interesse cada vez mais, para buscar seus outros trabalhos. E pode ter certeza que eles serão resenhados aqui no blog, por isso me cobrem. Perfect Blue já esteve aqui na Nave, e posso garantir que é um underground de primeiríssimo nível, e super recomendado para os adoradores da insanidade. Assim como disse na resenha passada, posso tirar uns 70% das minhas palavras e transferir aqui. Porém, Paprika e Perfect Blue também possui suas diferenças, dando assim a chance de distingui-los, e avaliarmos pela sua individualidade e suas características únicas. E nada melhor do que começar falando do seu plot básico, e em seguida dissecar os pontos mais importantes.

A história
 Num futuro próximo, o Dr. Tokita (Tôru Furuya) inventa um poderoso aparelho chamado DC-Mini, que torna possível o acesso aos sonhos das pessoas. Sua colega, a Dra. Atsuko Chiba (Megumi Hayashibara), psicoterapeuta e pesquisadora de ponta, desenvolve um tratamento psiquiátrico revolucionário a partir do aparelho. Mas, antes de seu uso ser sancionado pelo governo, o DC-Mini é roubado. Quando vários dos pesquisadores do laboratório começam a enlouquecer e a sonhar em estado de vigília, Atsuko assume seu alter-ego, Paprika, a bela "detetive de sonhos", para mergulhar no mundo do inconsciente e descobrir quem está por trás da tragédia.

 Paprika foi lançado em 2006 pelos estúdios Madhouse, com apenas 90 minutos de duração, o filme esbanja mistério, ficção científica, e surrealidade em altíssimo nível.


 Delirante, inusitado e extremamente louco. Uma verdadeira viagem ao paraíso desconhecido, chamado imaginação. Pra falar a verdade, eu nunca tinha pensado exatamente, em como juntar sonhos estranhos num filme de animação pudesse ficar tão bom. Mesmo apos assistir Perfect Blue, eu acredito que Paprika foi muito mais além na insanidade. Além de ter um ritmo diferente, ele foi como um descobrimento, uma verdadeira miragem contemplativa, onde cada informação era estabelecida de acordo com a necessidade. É igual ao apreciar um quadro, uma pintura. É preciso ter aquele olhar curioso, e tentar perceber com calma o que cada detalhe significa, caso o contrário boiará total.

 Satoshi faz questão de deixar um ar maior de mistério, quanto a suas informações oníricas estabelecidas ali. Tudo começa de fato a fazer algum sentido, quando a história vai se aproximando ao seu clímax, é preciso um pouquinho de persistência, e não desistir nos primeiros vinte minutos de filme. Tudo vai se encaixando de forma coerente, o que é de fato recompensador. A maneira como tudo vai se conectando é como um quebra cabeça. Tudo passa a fazer mais sentido, mesmo no meio de tanta loucura junta. 


 Um sonho entrando no outro, virando assim uma corrente sem término. Do começo ao fim nos deparamos com cenas desse porte, o que ficava meio confuso ás vezes. Nesse quesito, Perfect Blue era mais ''compreensível''. Essa necessidade de Paprika entrar por caminhos discretos, desmoronava o verdadeiro numa facilidade incrível, distorcia tudo em sua volta, transformando em algo vivo a realidade adivinhada. São cenas para te deixar confuso mesmo, afinal desde quando sonhos fazem sentido? na maioria das vezes eles são sem pé e sem cabeça. Eu sei que é possível controlar um sonho, quando se está com um pé na realidade, ou seja, quando se está meio acordado, consciente sobre tudo o que está acontecendo. Mais nem sempre é assim. Em Paprika, vemos que era ela quem dominava o imaginário, e não ao contrário. Ela tinha o poder, ela é quem estava no controle, no comando. Determinava tudo o que queria numa fração de milésimos de segundos, porque ela simplesmente acreditava que tudo ali era possível. Eu já consegui controlar um sonho, quando eu fazia um esforço. Por exemplo, quem nunca sonhou que estava caindo de um prédio? e quem nunca acordou logo em seguida? acredito que Paprika se utilizava dessa mesma força pra controlar o mundo, e ter o universo inteiro aos seus pés.

 Obviamente estamos se tratando de ficção científica, por isso não pense que você pode também controlar o seus sonhos (ou o mundo?!), porém,  se você estiver na mesma frequência que o espírito da Chiba Atsuko/Paprika, você pode encontrar infinitos universos paralelos a sua volta. Não to dizendo que você pode entrar dentro de uma televisão (como na imagem acima), mas perceberá que a vida pode ir além daquilo que é aparente, e tudo o que vemos pode se transformar naquilo que imaginamos/queremos, a vida transmite infinitas possibilidades, elas só estão ocultas, escondidas.

 Falando em realidade adivinhada, me lembrei agora do livro da diva Clarice Lispector de nome ''A hora da Estrela'', onde ela se utiliza desta mesma bússola para descobrir infinitos caminhos. Satoshi Kon encontrou no mundo de Paprika veios extremamente recessivos que, criaram um entrelaçamento significativo entre o real e o imaginário. Essa excelente articulação, funciona no filme muito bem. Esse tipo de narrativa, sublinha a estabilidade e o nomadismo da consciência de forma compreensível, isto é, o que era superficial se torna real.




 Esse filme é um mergulho na nossa própria potência de abstração, ganhando sentidos próprios da mesma maneira verossímil e fantasiosa dos nossos sonhos, nos quais não há limitação lógica ou física: os personagens atravessam paredes, se transformam, mudam de ponto de vista e de cenário e trazem novas situações livremente.

Por fim, descrever Paprika é um desafio e tanto. O filme é riquíssimo em detalhes, e que se assistidos uma vez passarão despercebidos. Ver por uma segunda vez, é uma tarefa prazerosa e recompensadora. As cores, os cenários e personagens só contribuem para um show de surrealidade num patamar avançado. Tão hipnotizante quanto um sonho. Inicialmente, Paprika se torna um filme difícil de se ver, entretanto a partir do momento em que a história se desenvolve, as cortinas se abrem, e todo aquele espetáculo visual passa a fazer sentido.

 Animação bem feita, sabor de psicodelismo do começo ao fim, adulta e exigente, indispensável para os adoradores de histórias maduras e imaginativas. 


Queria muito que Paprika visitasse os meus sonhos.

5 comentários:

  1. Já estou pra ver essa animação a muito tempo, depois desta postagem minha vontade aguçou ainda mais.

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    1. achei que você já tinha visto, então você mentiu no filmow u.u

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  2. Um filme de grande influência, embora difícil de ser compreendido. Em minha opinião ele foi a maior inspiração para a história do filme Inception (ainda acho esse título melhor que a tradução Tupiniquim). Claro o Live Action soube trabalhar mais a dinâmica e significado dos sonhos, mas também Paprika se desafia ao mostrar a insanidade na cabeça das pessoas.
    Não que isso baixe a qualidade de sua história, mas torna complexa sua compreensão, afinal nada mais difícil que entender a mente de um esquizofrênico.

    Uma história com grande potêncial, com várias lacunas diga-se de passagem, afinal é uma película para se assistir mais de uma vez para captar suas nuances, sem falar no tom forte de Psicodelismo, mas no fim era algo de se esperar vindo Satoshi Kon.

    Embora a parte do tapa na cara que a Dr.ª tenta dar no detetive e pega na cara do colega dela seja emblemática, até hoje me lembro da cotovelada que levei no peito ao dormir com minha namorada. Embora ela não se lembre o conteúdo do sonho para dizer o motivo de tal agressão.

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    1. Concordo com o que você disse á respeito da qualidade de sua história, afinal estamos se tratando de algo extremamente esquizofrênico e que vez por outra pode soar confuso visto uma vez. Realmente é preciso ver mais de uma vez para perceber certos detalhes escondidos em cada cena, até porque o filme é rico em ''mensagens subliminares''.

      Se parar pra pensar os sonhos possuem essa característica mesmo; e acredito que o filme tenha passado bem esse fator de Psicodelismo.

      Sobre aquela cena da Dr.ª, vou nem comentar, bem emblemática mesma. Talvez a sua namorada tenha passado por isso quando lhe agrediu também, mesmo que ela não se lembre. Enfim, espero que esteja recuperado da cotovelada haha

      Obrigada pelo comentário! ^^

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    2. Você acertou o alvo em cheio, Mensagens subliminares, uma definição sem comprovações que sempre foi estudada em cima de puras teorias.

      E nesse filme a história simplesmente dança com essas mensagens abaixo limiar absoluto, posso assistir tal história enumeras vezes, e em todas elas sempre irei detectar algo novo.

      E isso é mágico, pois é como se a medida que você cresce como pessoa e conhecimento, mais você estará captando, dando a sensação que o filme cresce junto com você, sendo que é justamente o contrário, película sempre será essa peça monumental, a única diferença é sua visão que conseguirá enxergar mais longe.

      E não se preocupe, estou totalmente recuperado da cotovelada, embora tenha outras lesões causadas por algumas estripulias de minhas sessões de treino. Mas o que não me mata me fortalece he he

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